Imagine vivenciar um episódio traumático que continua trazendo efeitos deletérios prejudicando seu estilo de vida e podendo trazer outros tipos de problemas psicológicos associados, é o que acontece nos casos de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), um transtorno que afeta milhares de pessoas que tem sido estudado cada vez mais na atualidade. Sabemos que esse tipo de memória traumática é difícil de ser extinguida, o que traz dificuldade para o tratamento de tal transtorno. Sabendo disso, surgem possíveis alternativas fisiológicas que podem explicar esse evento, principalmente relacionada a sinapse elétrica e seu papel na nas respostas rápidas a estímulos aversivos. Visto isso, como podemos trabalhar tratamentos auxiliares para potencializar a extinção desse tipo de memória? Nesse contexto surge a , que além de trazer benefícios fisiológicos que pode melhorar a qualidade de vida de indivíduos e até mesmo potencializar suas capacidades mentais. Aqui vamos discutir um pouco sobre como as sinapses elétricas participam do processo de expressão de memórias traumáticas e como a fé pode interferir nesse processo.
 
    O cérebro tem uma capacidade inata de processar e armazenar informações traumáticas para fins de sobrevivência futura. No entanto, em alguns casos, essas memórias podem ser persistentes e desordenadas, o que pode levar a TEPT. Esse transtorno se baseia em episódios involuntários de perturbações psicológicas fisiológicas desencadeadas por gatilhos que remetem algum evento traumático já vivido, como por exemplo agressão física ou sexual, assalto, sequestro, acidentes entre outros. Os sintomas envolvidos podem ser sudorese, náusea e tremores, prejuízos sociais, freezing (estado de choque), depressão, ou até mesmo desenvolvimento de outros transtornos como o transtorno dissociativo de identidade. O tratamento consiste em psicoterapia e medicamentos como antidepressivos e ansiolíticos. A psicoterapia geralmente é voltada para terapia de extinção de memórias aversivas, onde o indivíduo  com TEPT é exposto às situações específicas que desencadeiam medo excessivo em ambiente controlado para aprender a lidar com aquele trauma, atribuindo outra perspectiva emocional a ele. A consolidação de uma memória traumática está fortemente relacionada à plasticidade sináptica, que é a capacidade das sinapses para se adaptarem e mudam como resultado da experiência. Dessa forma, as sinapses desempenham um papel imprescindível para que seja lembrado o evento traumático desencadeando todas as respostas fisiológicas já citadas aqui.  As sinapses são responsáveis pelo processamento e transmissão da informação porque é nessa região que a informação chega em forma de potenciais de ação (informação elétrica) e é convertida em informação química através da liberação dos neurotransmissores. Neste sentido, essa região é fundamental para o processamento de toda informação que circula pelos neurônios. Dessa forma, há dois tipos de sinapses: química e elétrica (imagem abaixo).
 
      As sinapses químicas são eficientes e precisas, pois apresentam a capacidade de controlar, modular e transmitir todas mensagens elétricas (que chegam por meio do potencial de ação) e químicas (que chegam por meio de neurotransmissores), utilizando neurotransmissores como forma de interação entre os neurônios pré e pós sinápticos. Já as sinapses elétricas ocorrem quando o potencial de ação de um neurônio é transferido diretamente para o próximo neurônio, sem a necessidade de liberação de neurotransmissores químicos. A base celular dessas sinapses é a junção comunicante, um grupo de canais intercelulares que medeiam a comunicação direta entre neurônios adjacentes. Isso resulta em uma transmissão rápida e eficiente de informações. Além disso, as sinapses elétricas regulam dinamicamente os circuitos neurais por meio de propriedades sem equivalência na transmissão química. Devido à sua natureza contínua e bidirecionalidade, as sinapses elétricas permitem que as correntes elétricas subjacentes às mudanças no potencial da membrana vazem para os parceiros "acoplados", amortecendo a excitabilidade neuronal e alterando suas propriedades integrativas. Esse efeito pode ser aliviado transitoriamente quando mudanças comparáveis no potencial de membrana ocorrem simultaneamente em cada um dos neurônios acoplados, um fenômeno ditado dinamicamente pelo tempo de chegada dos sinais, como os potenciais sinápticos. Isso têm implicações importantes para a compreensão de como as memórias traumáticas são formadas e processadas no cérebro. A inibição de neurônios excitatórios por meio de sinapses elétricas, por exemplo, é um processo que pode limitar a atividade nervosa excessiva de forma rápida e dinâmica, incluindo em situações de estresse ou dor. Alguns estudos sugerem que a inibição de neurônios excitatórios pode ser um mecanismo importante para controlar a consolidação da memória traumática. Um trabalho mostrou que o bloqueio das junções comunicantes neuronais no hipocampo dorsal prejudicaram o aprendizado, a memória e a extinção do medo dependente do contexto. Dessa forma, as sinapses elétricas controlam as contribuições do hipocampo para o aprendizado e a memória do medo. Neurônios inibitórios podem ser ativados para suprimir a atividade de outros neurônios e regular a atividade global do cérebro. Isso é importante para manter o equilíbrio adequado de excitação e inibição e evitar a hiperexcitação, que pode levar a respostas fisiológicas e comportamentais  deletérias exacerbadas devido ao estímulo aversivo. Mas quais são as ferramentas que temos que podem favorecer esse processo? A fé talvez possa ter alguma contribuição nesse sentido.


     A fé  pode ter um impacto significativo na forma como as pessoas processam e lidam com o estresse traumático. Alguns estudos sugerem que a prática religiosa e o senso de espiritualidade podem ajudar a regular as respostas emocionais e a diminuir a ansiedade associada a memórias traumáticas. Além disso, a fé pode fornecer uma rede de apoio social e uma sensação de propósito e significado, o que pode ser útil na recuperação de memórias traumáticas. No entanto, algumas pesquisas sugerem que a fé pode ser uma fonte de dor e conflito em algumas situações, especialmente quando as crenças religiosas entram em conflito com a natureza traumática da experiência. No contexto das sinapses elétricas, essas sinapses podem desempenhar um papel importante na forma como o cérebro processa e integra informações sensoriais, incluindo aquelas relacionadas à fé e à espiritualidade, podendo influenciar a forma como as pessoas interpretam e formam suas crenças espirituais, desempenhando um papel na forma como o cérebro processa informações conflitantes ou incongruentes, o que pode ser relevante para a forma como as pessoas lidam com crenças religiosas.
 
 A neurofisiologia da sinapse elétrica e da inibição de áreas cerebrais pode fornecer uma base para a compreensão do processamento anormal de memórias traumáticas no cérebro e ajudar a desenvolver tratamentos eficazes para o TEPT. Ainda não se tem conhecimento da utilização da potencialização da fé para esse fim, sendo necessário a elaboração de novos estudos para compreender completamente a relação entre as sinapses elétricas e o processo cognitivo da fé no processo de extinção de  memórias traumáticas. É importante destacar que a fé é um processo complexo que envolve muitos fatores, incluindo personalidade, cultura, história de vida e experiências pessoais, sendo necessária uma atenção maior na realização de trabalhos futuros.


Referências:

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Autor:

Rodrigo Oliveira

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