Aprender a ler é um processo bastante delicado que envolve diversos estímulos específicos enviados ao cérebro, exigindo esforço cognitivo que ativam regiões visuais e corticais.

            Considerando que cada idioma ativa regiões diferentes do cérebro, por conta das idiossincrasias e fonéticas representadas, um estudo de imagem cerebral apresentou evidências de uma assinatura cerebral universal para ouvir e ler, de quatro idiomas diferentes (espanhol, inglês, Hebraico e chinês).

             Sendo possível identificar ativações cerebrais em idiomas, seria executável então identificar o comportamento do cérebro de uma pessoa com dislexia, enquanto ela lê em português?

            Pesquisadores no BRAINS, Rio Grande do Sul, investigaram o funcionamento do cérebro de crianças do ensino fundamental que apresentaram boa leitura, e de crianças na mesma faixa escolar, que apresentavam este transtorno de aprendizagem (dislexia). Realizaram dois estudos de ressonância magnética em crianças, um em estado de repouso e outro durante a leitura de palavras. Os resultados mostram subconectividade entre a área visual da forma da palavra e a rede do modo padrão em cérebros típicos (não disléxicos).

            A área visual da forma das palavras é uma região especial no cérebro que se modifica e se adapta quando a criança aprende a ler. Não fica ativa da mesma maneira que na criança com dislexia, em comparação com a criança da mesma faixa etária que lê normalmente.

            À medida que a leitura se torna fluente e precisa, durante a fase de alfabetização (4-6 anos), as redes correlacionam-se para fluência da leitura no cérebro, considerado desenvolvimento típico. A ativação da região visual se modifica e adapta-se quando a criança está aprendendo a ler e quando há dificuldades persistentes para aprender habilidades acadêmicas fundamentais, o desenvolvimento é considerado atípico.

          Até recentemente não havia estudos que comprovassem o comportamento do cérebro atípico disléxico. Entretanto, outro utilizou exames de imagem, enquanto estímulos léxicos eram apresentados, identificaram as regiões ativadas em cérebro atípicos.
            A criança que tornou fluida a linguagem, o cérebro continuou com ativação visual conectada a rede padrão do cérebro, mesmo em repouso. O cérebro atípico em repouso não responde à rede padrão e mesmo em atividade apresenta pouca ou nenhuma resposta das áreas visuais.

            Aparentemente o cérebro de crianças com dislexia apresenta um padrão de ativação neural mais difuso, com dificuldade em gerar associação do campo visual da leitura. Pode exigir mais atenção no recrutamento das palavras do que em estágios mais avançados de leitura e tem necessidade de enviar um grande esforço mental. As operações relacionadas ao reconhecimento das palavras não são plenamente automatizadas, como com os leitores hábeis, despendendo mais tempo em tarefas que necessitam de leitura.

            Segundo os estudos citados, leitores típicos ativam mais o córtex cingulado anterior (ACC sigla em inglês) nos estágios iniciais de leitura, pelo esforço associado à focalização da atenção. A região occipitotemporal é a área da forma visual das palavras também ativada nas crianças com desenvolvimento típico e é um marcador cerebral do desenvolvimento da leitura fluente.


            As descobertas fornecem evidências sobre o papel de uma região cerebral responsável pela forma visual das palavras no problema de leitura.

            O córtex cingulado anterior está associado a processos emocionais, como parte do sistema límbico, mas também está implicado nas funções executivas e na capacidade de focalizar a atenção.

            O ACC está totalmente desacoplado da rede de conectividade funcional, quando apresenta características à dislexia.
          Como esses estudos podem contribuir para o contexto escolar? A contação de história (storytelling) facilita o processo de aprendizagem, que tende a gerar experiência emocional, integrando áreas límbicas e corticais.

           A ativação de regiões cerebrais pode ser estudada através da ressonância neurofuncional (fMRi) na identificação entre esforço e compreensão da leitura.

            Crianças que leem bem, além de apresentarem ativação da área da forma visual das palavras, mostraram ativação de áreas frontais do cérebro, associadas com esforço atencional que é característica do desenvolvimento de automação na leitura. Esta evidência é característica de bons leitores em início de alfabetização, quando ainda há necessidade de bastante esforço e atenção na decodificação da leitura.

            À medida que vai consolidando a aprendizagem é necessário a ativação de outras áreas, para a compreensão do texto, o que torna fluente a leitura. O contexto de aprendizagem precisa ser facilitador e acompanhar o desenvolvimento das crianças, que não se enquadram no modelo tradicional de ensino.

            Educadores precisam estar atentos além dos diagnósticos, conhecendo técnicas e estudos da neurociência, para tornar o ambiente escolar interessante e imersivo, aumentando conectividade neural, entre regiões occipitais e corticais, melhorando a produtividade no comportamento das crianças.
 




Referências

BUCHWEITZ, Augusto et al. Decoupling of the Occipitotemporal Cortex and the Brain’s Default-Mode Network in Dyslexia and a Role for the Cingulate Cortex in Good Readers: A Brain Imaging Study of Brazilian Children. Developmental neuropsychology, v. 44, n. 1, p. 146-157, 2019.
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Autor: Mab Abreu
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