Já imaginou utilizar drogas/psicodélicos para tratamentos de transtornos psiquiátricos ou de outros transtornos de natureza neurológica? Isso pode soar estranho, já que é comum associar  psicodélicos com uso recreativo de forma marginalizada. Isso se deve ao movimento de contracultura psicodélico que teve seu surgimento por volta de 1960 e impactou a sociedade até os dias atuais, desde as vestimentas, até o costume de  toda uma geração. No entanto, com seu surgimento e rápido avanço, os psicodélicos, assim como outras drogas, foram consideradas ilegais na grande maioria dos países. Entretanto, hoje em dia estudos mostram que os psicodélicos podem sim ter efeitos positivos quando utilizados na dosagem e momentos certos.  Antes de discutirmos isso, vamos entender melhor o que é um psicodélico. Os psicodélicos são uma classe de compostos químicos que geram experiência psicodélicas, ou seja, altera os níveis de consciência, aumenta substancialmente a sensação de bem-estar e gera alucinações visuais e auditivas. Tais experiências são geradas porque as drogas psicodélicas ativam os receptores serotoninérgicos do cérebro (enganando-os) e aumentando a atividade cerebral (assim como a cafeína faz com os receptores de adenosina). Existem vários tipos e classes de psicodélicos. Aqui, vamos citar alguns que tem se destacado muito no meio neurocientífico. 


Fungos

   Alguns tipos de fungos psicodélicos têm mostrado potenciais tratamentos de alguns distúrbios a partir de alterações dos níveis de consciência e conectividade cerebral. Dentre vários tipos do reino fungi, os cogumelos têm se destacado por apresentar substâncias responsáveis por esse tipo de alteração, como é o caso da psilocibina. Trabalhos mostram que a psilocibina apresenta uma resposta antidepressiva rápida, e sustentada, que pode ser correlacionada com diminuições na modularidade da rede cerebral de Ressonância magnética funcional (fMRI), o que implica que a ação antidepressiva da psilocibina pode depender de um aumento global na integração da rede cerebral. Além disso, após algumas análises de cartografia de rede indicaram que as redes funcionais de ordem superior ricas em receptores 5-HT2A tornaram-se mais interconectadas funcionalmente e flexíveis após o tratamento com psilocibina podendo promover aumentos globais na integração da rede cerebral. Outro tipo de droga bastante conhecida que é um composto psicodélico derivado do fungo Claviceps purpurea, o LSD, também se mostrou também como um potencial no tratamento da depressão quando utilizado em microdoses. Pessoas que utilizam LSD com essa dose terapêutica mostraram aumento nos níveis de criatividade, disposição, diminuição da ansiedade, depressão, etc. A dose utilizada não causa efeitos colaterais indesejáveis na maioria das pessoas e parece oferecer uma recuperação sustentada em diversos transtornos. 
 


Cannabis

   Também popularmente chamada de maconha,  a cannabis vem protagonizando cada vez com mais intensidade diversos episódios polêmicos que permeiam o mundo com debates e discussões envolvendo sua legalização e suas propriedades terapêuticas. A cannabis sativa, de onde a maconha é extraída, é uma planta herbácea da família das  Canabiáceas e contém em suas flores e folhas uma resina com aproximadamente 60 componentes terpenofenólicos, que são os famosos chamados canabinóides. Os mais conhecidos e abundantes são o CBD (canabidiol) e o THC (Δ9-tetrahidrocanabinol), ambos interagem com o sistema endocanabinóide, que é um sistema sinalizador vital responsável por regular uma variedade de funções tais como dor, memória, humor e resposta imunológica, entre outras muitas.  A ação desses canabinoides é muito parecida com os canabinóides endógenos, sim, aqueles produzidos pelo próprio corpo, também chamados de endocanabinóides e que se ligam a receptores cerebrais específicos, desencadeando diferentes reações. Dentre eles o mais estudado é a anandamida. Sabendo de tudo isso, a cada dia tem surgido mais e mais estudos relacionados com a cannabis e seus efeitos no sistema nervoso. Muitos trabalhos evidenciam que o uso de cannabis tem associação com o funcionamento cognitivo, mas os pesquisadores apontam que outros fatores de risco devem ser analisados. Riscos ambientais, influência de grupos, status socioeconômico e comportamento dos pais são fatores que podem ser analisados de acordo com o uso do cannabis. Segundo os autores, a maior frequência e o início precoce do uso regular de cannabis tiveram associados a um déficit no desempenho cognitivo, principalmente através dos testes com memória verbal. Esses efeitos estão geralmente associados ao THC. Entretanto, outros trabalhos têm demonstrado resultados positivos decorrentes do uso da cannabis. O CBD, por exemplo,  reduz a ansiedade, e tem propriedades altamente antipsicóticas além de te relaxar e deixar sonolento (oposto a aquele efeito mais ativo estimulante do THC). O CBD também irá reduzir o deterioro na memória que o THC fornece. Esta substância é a mais utilizada para as propriedades medicinais, pois também tem características anti inflamatórias, anti convulsivas, antidepressivas, alivia a ansiedade, além de frear o avanço de doenças neurodegenerativas e auxiliar no tratamento de esquizofrenia ou adições com outras substâncias recreativas como a cocaína.


Ayahuasca

   A ayahuasca, também conhecida pelos nomes de Santo Daime e Vegetal, é uma bebida composta de duas plantas: o cipó Banisteriopsis caapi e a rubiácea Psychotria viridis, fervidas juntas durante muitas horas. Essa mistura etnobotânica psicoativa que tem sido usada há décadas por grupos indígenas do noroeste da Amazônia e por associações religiosas sincréticas para fins rituais e terapêuticos locais. Os efeitos subjetivos da ayahuasca (e outros alucinógenos) são difíceis de descrever e medir. Alguns estudos mostraram que Esses efeitos subjetivos incluem aumentos na introspecção, serenidade e na experiência de memórias com conteúdo autobiográfico, humor positivo, afeto e bem-estar, percepção alterada de cores e sons frequentemente acompanhados de sinestesia , e também experiências místicas e religiosas. Nas últimas duas décadas, está sendo usado mundialmente em práticas em evolução, principalmente por causa dos seus efeitos terapêuticos. Trabalhos recentes demonstraram efeitos antidepressivos de psicodélicos como o extrato da Ayahuasca em pessoas com depressão resistente ao tratamento, por exemplo. Ou até mesmo a diminuição de desregulações de humor e ansiedade. Porém, nota-se que nestes estudos foi utilizado a dose convencional já utilizada em estudos anteriores ou para recreação. Outros trabalhos também mostraram mudanças no padrão da atividade cerebral, após o uso do chá de ayahuasca, sendo encontrado alterações  de eletroencefalografia (EEG),  Tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT) e Ressonância magnética funcional (fMRI) com repercussões antiagregantes e antidepressivas. 
 
   E é nesse contexto que criamos uma nova personalidade Brainsupport, um novo mascote chamado YAGÉ. A palavra "Yagé" é uma denominação indígena dada tanto ao cipó Banisteriopsis (Ayahuasca) caapi quanto ao chá enteógeno que é preparado a partir das folhas da árvore chacrona (Psychotria viridis). Yagé possui seu corpo emaranhado de cipó da planta que dá seu nome, assim como os aglomerados de axônios e dendritos que transpassam o tecido cerebral. Sua cabeça é formada por um grande cogumelo da espécie Amanita muscaria, representando o grupo dos fungos alucinógenos possuindo uma cor psicodélica representando seu efeito sobre a mente. Já suas vestimentas sendo folhas de Cannabis referência vestimentas indígenas,  principais grupos que utilizam esses tipos de plantas como agentes terapêuticos e seus rituais. Yagé mostra como os estado alterados de consciência possuem  ligações neuronais com os fungos, raízes e plantas. Ele junto COM Brainlly, Olmeca e Iam embarcarão nessa missão de levar conhecimento neurocientífico baseado em evidências de forma lúdica até você!
 


Referências:
 
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Autor:

Rodrigo Oliveira

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