Larissa Nascimento
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A aprendizagem motora humana

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 A aprendizagem motora humana consiste numa série de processos internos que determinam a capacidade de um indivíduo para executar uma tarefa motora, associado às suas práticas e experiências prévias. E esses processos, estão intrinsecamente ligados ao controle motor, pois, a todo momento estamos nos deslocando e os movimentos representam a principal forma de interação entre os seres humanos e o ambiente. 

   Os movimentos permitem o engajamento e convívio interpessoal e se conectam através das experiências desenvolvidas, com os tipos de estímulos recebidos ao longo da vida e da influência ambiental. Uma simples tarefa como desejar tomar café, consiste no planejamento de pegar a xícara e executar a ação de forma plena, o que envolve o funcionamento complexo e coordenado do sistema nervoso associado ao controle motor e os aspectos relacionados ao contexto ambiental.
Nesse contexto, a função motora envolve aspectos maturacionais (sequência de eventos biológicos que ocorrem no cérebro e corpo). E a aprendizagem motora engloba o conhecimento da sequência motora e a capacidade de adaptação aos ambientes, sendo passível de influências intrínsecas do indivíduo (maturação, capacidade física), ambientais (espaços, aspectos sócio- culturais) e da tarefa específica ( regras, objetivos, acessórios, equipamentos).

                     

   Pensando em um exemplo ilustrativo: um adulto que está aprendendo a nadar pela primeira vez, recebe as informações do professor sobre os movimentos que deverão ser realizados; processa essas informações e executa o movimento, tendo o feedback extrínseco (ambiental) e feedback intrínseco (próprio/endógeno) como mecanismos que facilitam a produção dos ajustes necessários para a realização da tarefa. O cérebro, em sincronia com todo o aparato motor (músculos, articulações), permitem que através do sequência motora repetitiva haja a geração de adaptação motora, geração de aprendizado e de uma via específica para aquela tarefa (os engramas motores: a programação neuromotora que é criada sempre que praticamos uma habilidade). O pensamento é traduzido em atos concretos através do controle muscular voluntário e ao longo do tempo a habilidade de controle sobre o aparato motor sofre adaptações, moduladas pela atenção e engajamento do indivíduo com a tarefa. E é isso que favorece os sujeitos, como o exemplo do aluno de natação, que ao final do primeiro mês de treinamento já deve sentir-se capaz de experienciar novos movimentos na piscina. 

Etapas do controle motor

   O controle motor voluntário pode ser dividido em etapas: tomada de decisão e planejamento, o início do movimento e execução da ação. Para tanto é necessário que haja a coordenação entre o córtex cerebral, o cerebelo e os núcleos da base. Se um movimento é idealizado, essa informação é encaminhada para as áreas de associação cortical, posteriormente córtex motor e núcleos da base e seguem para o músculo, gerando o movimento. O cerebelo participa do processo recebendo sinais de feedback da periferia e do córtex, realizando uma espécie de comparação do que foi planejado e do que está sendo executado, favorecendo os ajustes necessários para melhor execução do gesto.

Estágios da aprendizagem motora

   A repetição contínua e progressiva de uma tarefa gera a aprendizagem, a qual apresenta estágios: cognitivo, associativo e autônomo. O estágio cognitivo é o que exige mais atenção do indivíduo e o que gera maior gasto calórico (como pode ser mensurado com o NIRSport2);  estágio associativo abarca o melhor entendimento do indivíduo sobre as pistas que o ambiente fornece, favorecendo os ajustes corporais e estratégicos; o estágio autônomo representa o estágio mais avançado da aprendizagem, que exige menos atividade de atenção (quando comparado ao primeiro estágio), com movimentos mais fluidos, automatizados. 

Como saber se a aprendizagem motora aconteceu 

   Um modo de saber se a aprendizagem motora aconteceu é por meio do desempenho. De forma geral, a aprendizagem de uma tarefa simples ou complexa e sua prática longo do tempo e leva à presteza. Agora imagine um sujeito diante de uma cesta de basquete: de sete chances de arremesso, erra seis e acerta apenas uma, mas com a prática por uma semana, já apresenta melhora na precisão, reduzindo os erros, e acerta todos os arremessos. Isso caracteriza a aprendizagem. O processo de aprendizagem motora é progressivo e por essa razão exige prática continuada.
  
                    

   Estudos realizados com humanos para investigação sobre a sequência de aprendizagem motora trazem a investigação relacionada das ações físicas à cognição, especialmente os mecanismos neurais. Um instrumento utilizado comumente nesse tipo de investigação é a Espectroscopia por Infravermelho Próximo Funcional (fNIRS), 
que permite medir a ativação cortical durante movimentos dinâmicos, como caminhar e correr ou uma tarefa que exige em uma postura sentada ou em um ambiente mais descontraído como tocar piano e jogar tênis de mesa. Isso permite o monitoramento das alterações hemodinâmicas cerebrais em diferentes contextos da vida real que envolvem a aprendizagem motora, através da inferência das alterações na concentração local de oxi e desoxi-hemoglobina (em termos de atividade neural). Um exemplo de estudo que avalia a ocorrência de aprendizagem motora é a tarefa do rotor de busca (RB) [Figura abaixo]. É uma tarefa em que o participante tenta perseguir um pequeno disco em uma plataforma giratória rotativa e que exige controle motor de partes proximais da extremidade superior, incluindo ombro e cotovelo e controle postural para sentar. 

                              
                                                Retirado de [2]

   Um estudo realizado com essa tarefa associado ao fNIRS , propôs que cada sujeito realizasse a tarefa de rotor de busca [imagem abaixo], com 8 ciclos de repetições da tarefa. Foi registrada a ativação cortical e os padrões de ativação cortical foram associados à aquisição de habilidade motora para a tarefa de RB. Houve aumento do oxyHb relacionado à tarefa e diminuições de desoxiHb nas regiões frontais mediais que mudaram ativamente com a aquisição de habilidade motora para a tarefa, pois o desempenho melhorou com as repetições dos ciclos, que tornou tornou a tarefa precisa, com presteza. 
    

                                          Retirado de [2]

   E então qual seria o segredo para ter uma perfeita performance de uma tarefa? Repetição! É a repetição quem favorece a redução dos erros diante da variabilidade de contextos, favorece a formação dos engramas motores e voila*! Acontece a aprendizagem motora.

   Agora que  já sabemos que "a prática leva à perfeição" (e à aprendizagem também)… que tal pensar em retomar aquele projeto pessoal de tocar um instrumento musical ou iniciar uma nova modalidade esportiva? 

*[Voila! vem do francês, que significa “Aí está!”.]



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REFERÊNCIAS

[1] Balardin, Joana B., et al. "Imaging brain function with functional near-infrared spectroscopy in unconstrained environments." Frontiers in human neuroscience 11 (2017): 258.

[2] Hatakenaka, Megumi, et al. "Frontal regions involved in learning of motor skill—a functional NIRS study." Neuroimage 34.1 (2007): 109-116.

[3]Nambu, Isao, et al. "Detecting motor learning-related fnirs activity by applying removal of systemic interferences." IEICE TRANSACTIONS on Information and Systems 100.1 (2017): 242-245.

[4] Wolpert, Daniel M., Zoubin Ghahramani, and J. Randall Flanagan. "Perspectives and problems in motor learning." Trends in cognitive sciences 5.11 (2001): 487-494.

                       



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Jackson Cionek

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